“Martinho da Vila e, agora, do Vale”

O último sábado, 7 de maio, foi véspera do dia das mães, mas o grande homenageado daquela noite foi o filho ilustre de Duas Barras. O vizinho município viveu um fim-de-semana de festejos e programação especial pelo seu 120º aniversário, sendo o ponto alto a inauguração da estátua do popular e internacionalmente consagrado cantor, compositor e escritor (com mais de 10 livros publicados) Martinho da Vila, nascido - como gosta de dizer – “no carnaval de 38” (12 de fevereiro de 1938) como Martinho José Ferreira, na fazenda do Cedro Grande, em Duas Barras, onde seus pais eram lavradores.

A estátua em tamanho natural retrata Martinho empunhando microfone e interpretando uma de suas composições, com a característica vestimenta (calças simples, camiseta sob a camisa aberta e as famosas e confortáveis sandálias, quase uma marca registrada). Obra do renomado caricaturista Ique - que muito descontraidamente também participou da inauguração.

Em rápido pronunciamento em que falou sobre o processo de criação do monumento, Ique conclui com uma frase emblemática para a ocasião: “Parabéns à Prefeitura por essa iniciativa e obrigado pela oportunidade de participar. Martinho, que sempre foi da Vila, agora também é do Vale”. - disse referindo-se ao Mirante do Vale Encantado, onde foi erigido o monumento.

Ministro e amigo representou a presidente Dilma
Contando com as presenças de diversas autoridades da região serrana-centro norte fluminense, principalmente prefeitos, secretários municipais e vereadores, além de jornalistas, bem como do Ministro dos Esportes, Orlando Silva - amigo do homenageado e que representou a presidente Dilma, inclusive justificando sua ausência em função da forte gripe, mas assegurando o quanto ela gosta do cantor - a inauguração aconteceu a três quilômetros do centro histórico de Duas Barras e teve momentos de muita emoção.

Um deles foi quando o próprio Martinho entoou a versão moderna e em ritmo de samba do Hino Nacional brasileiro e, ainda, quando o prefeito Antonio Carlos Araújo rememorou que seu pai Victorino Araujo de Barros - há mais de 40 anos era o prefeito - promoveu o retorno de Martinho à sua terra natal, de onde ele havia saído com apenas quatro anos e somente retornado aos 18.

O prefeito Antonio Carlos aproveitou para agradecer ao governador Sérgio Cabral - que não pode estar presente, em função do aniversário de seu filho - e à secretária de Estado de Esportes e Turismo, Márcia Lins, que esteve durante o dia visitando o município, mas não pode permanecer para a inauguração, pois ambos foram responsáveis pela viabilização do monumento.

Martinho: “Eu nem morri ainda e já virei estátua”
Mantendo seu já reconhecido e característico jeito simples e despojado, ao lado da mulher Cléo, Martinho falou com muita humildade da homenagem que lhe era prestada, agradecendo ao prefeito, aos vereadores e à secretária de Cultura do município, Camila Ponce. Martinho também rememorou seu reencontro com a cidade natal e lembrou que - a exemplo da inauguração do monumento - a homenagem que mais o havia emocionado, foi exatamente a que o então prefeito Victorino de Araújo, promoveu para recepcioná-lo, há 42 anos, no seu retorno a Duas Barras.

“Tinha banda de música e tudo (a fantástica 8 de dezembro) e toda gente me recebendo na praça da cidade”. - disse o cantor que falou ainda que toda homenagem que recebe deixa-lhe sempre muito sem jeito. “Eu fico querendo me esconder, envergonhado”. - assegurou Martinho, contando ainda que havia sugerido ao prefeito apenas que fizesse um recuo, naquele local bonito da estrada para que as pessoas pudessem parar o carro e admirar a paisagem de chegada ao município. “Poxa, mas ele fez logo um mirante, com uma estátua minha e tudo e olha que eu nem morri ainda” (risos).

O local - seguramente um ponto turístico importante não só para aquela cidade, mas para toda a região - foi construído pela Prefeitura bibarrense e recebeu o nome de Mirante do Vale Encantado, em alusão à música ‘Meu Off-Rio’, na qual o cantor e compositor enumera as belezas e características dos arredores de sua terra, incluindo alusões a Nova Friburgo, Bom Jardim, Cordeiro, Cantagalo, entre outras cidades serranas. Num trecho da composição, Martinho canta: “É um lugar especial (...). Na entrada, há um vale que é encantado. Tem cavalgada e procissão”.

A cerimônia contou ainda com apresentações especiais da banda de música do Instituto Cultural Martinho da Vila (ICMV), que o artista criou há alguns anos na cidade, onde também comprou a propriedade em que nasceu, desde que retomou seus laços com a terra natal.

 

Meu Off Rio (Martinho da Vila)

Nos arredores, Cantagalo, Teresópolis
Nova Friburgo e Bom Jardim, bem no caminho
Meu off Rio tem um clima de montanha
e os bons ares vêm da serra de Petrópolis
É um lugar especial para quem é sentimental
e aprecia um gostoso bacalhau
O galo canta de madrugada e a bandinha toca na praça
Na entrada há um vale que é encantado
Tem cavalgada, tem procissão
As cachoeiras principais de lá são duas
E a barra é limpa porque lá não tem ladrão
Tomo cachaça com os amigos lá em Cachoeira Alta
E na Queda do Tadeu, churrasco ao lago
Pra ir pro Carmo tem muita curva
E a preguiça então me faz ficar na praça e eu nem preciso
trancar o carro, a chave fica na ignição
A minha Vila fica meio enciumada, se eu pego estrada e vou correndo para lá
Se alguém pergunta, eu não digo onde fica o tal lugar
Mas canto um samba para quem adivinhar

 

Fonte: novaimprensa.com.br (Girlan Guilland)