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domingo, 23 de outubro de 2011

Martinho da Vila: Acho tudo bom e bonito

Íntegra da coluna de Martinho da Vila, publicada hoje no jornal "O Dia", com destaque para Duas Barras.
Rio - Na primeira quinzena deste mês eu estive em muitos lugares em tempo recorde. Saí do Rio no dia 4, no dia 6 cantei em Lisboa, no dia 7, no Porto e depois, em Évora, cidade portuguesa tombada como patrimônio mundial. Retornei no dia 11 de Madri e, no 14, fui para Piraí, aconchegante cidade fluminense, terra do amigo Pezão, o vice. Depois do show, peguei a estrada, cheguei na quadra da Vila na madrugada e, à tardinha, viajei para Porto Alegre. Dia seguinte subi a Serra Gaúcha com destino a Canela e fiz um show no hotel Laje de Pedra. Ufa!
Mesmo fazendo tudo devagar, bem devagarinho, confesso que fiquei muito cansado, e como não sou de ferro, fui passar o fim de semana em Duas Barras para me recompor e curtir um pouquinho da vida da roça, cantada num samba que eu fiz quando era menino e jamais gravei: “Acordava sob o canto dos passarinhos/ Ia para o trabalho vendo a aurora raiar/ Respirava um ar puro, bem fresquinho/ Descansava sob árvores frondosas quando o astro-rei estava a brilhar/ Vinha a noite, a escuridão fazia medo/ Mas a lua parecia nascer mais cedo/ Dormia sobre uma fina esteira/ Aquecido pelo calor da lareira/ Tinha dias de grandes festa nas fazendas e casas pequenas/ Participavam de alegres serestas sadios rapazes e belas morenas/ Dançava-se ao som da sanfona enfeita, do pandeiro e da viola enfeitada/ Que saudade da pequenina cidade/ Onde um pobre tem vida de qualidade”. Verdade, mas a minha vida lá na minha roça é complicada: acordo com a algazarra dos pássaros, levanto para ver o amanhecer sem abrir muito os olhos nem olhar para o relógio, como uma fruta do pomar, tomo um café com leite das vaquinhas próprias e volto pra cama. Dá uma vontade enorme de passar o dia inteiro no leito, mas cama também cansa e em indefinida hora acordo do segundo sono. Aí levanto e tomo um café preto para despertar e, involuntariamente, fico sem contato com o mundo. Computador, nem pensar, e o maior problema é que lá não tem telefone fixo e o móvel não pega.
Sinceramente eu prefiro assim mesmo, mas é um absurdo não haver fios condutores nem torres para celulares entre Bom Jardim e Duas Barras, cidades próximas de Friburgo e que distam menos de 200 km do Rio de Janeiro. A saída é sair para dar uma volta na propriedade. Jogo uns grãos de milho para as galinhas, umas folhas para os gansos e patos, dou uma olhada nos porquinhos na pocilga e nos bezerrinhos no curral. Aí, preparo uns anzóis e vou pescar em um dos dois lagos. É pesca esportiva, pescar e soltar. Se dou sorte, reservo uns dois peixinhos para o almoço. À tarde vou à cidade, compro um jornal, levo pra casa ou leio na praça. Como é bom ler jornal num banco de praça! Volto pra fazenda e dou uma caminhada numa estradinha de terra em meio de uma floresta, que eu apelidei de estrada dos bons pensamentos. Esta é a melhor parte. Caminho de pés descalços, falo sozinho em voz alta, abraço uma árvore... Sinto-me em contato direto com a natureza. Gostaria de ficar por lá, não posso, mas não reclamo. Volto para a lida com as energias carregadas e achando tudo bom e bonito, inclusive todos os sambas enredo deste ano.

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