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terça-feira, 26 de abril de 2011

Ricardo Cravo Albin: Martinho e a Academia

Há poucos dias, participei de um encontro muito raro, um puro exercício de carioquice na sua quintessência de convergências. Isso ocorreu quando a Academia Carioca de Letras recebeu o cantor-compositor Martinho da Vila para falar de Noel Rosa, da Vila Isabel, dos anos 30 formadores da própria estrutura da MPB. Quanto à Academia, vale registrar aqui, ela é sólida instituição literária dedicada às letras cariocas e aos personagens da cidade. Hoje presidida por gente do porte de Stella Leonardos e Nelson Mello e Souza, a Carioca de Letras vem sendo propulsionada por belo plano de expansão coordenado por Paulo Pereira. Quanto a Martinho, a par de ser o vulto exponencial de nossa cultura popular, também é escritor de novelas, romances, ensaios.
Saudado pelos acadêmicos como uma “rara flor do Rio”, Martinho encantou a todos pela simplicidade e despojamento. Sua conversa evoluía, doce e fraterna, naquele jeito tão seu, quando Martinho surpreendeu a todos nós dizendo-se saudoso do Rio das décadas de 30 e 40. Sua vontade era de ter nascido pelo menos 20 anos antes e de ter participado de uma outra cidade mais amável, o Rio dos bondes, da Lapa antiga, da Vila Isabel dos arvoredos. E, especialmente, muito especialmente, de conviver — este o supremo desejo — com Orestes Barbosa, Francisco Alves, Carmen Miranda, além de André Filho e, é claro, Noel.
Este quase clamor de resgate, de volta a um passado histórico e heroico, amável e sem paralelos na essência do Rio como urbe, não só me chamou a atenção, mas comoveu a todos os intelectuais presentes.
Aposto que não houve um sequer de nós, ouvindo o doce desfiar das histórias nostálgicas de Martinho, que não quisesse entrar numa máquina do tempo e desembarcar ali mesmo, na Lapa de Noel e de Ismael Silva. Só que 80 anos antes... Ricardo Cravo Albin é presidente do Instituto Cultural Cravo Albin
Fonte: O Dia Online 

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